15/02/2021 11:04 | NOTÍCIAS
Nem as novas variantes nem a vacinação contra a covid-19 são motivos para que abandonemos, por ora, o hábito de usar máscaras em público. Na opinião de especialistas, estamos longe de um cenário que permita colocar de volta o nosso rosto ao vento, sem a proteção do acessório. Porém, nas últimas semanas, duas notícias colocaram em dúvida a necessidade do revestimento facial. Primeiro, o início da imunização de grupos prioritários e em situação de risco. Depois, o alerta de autoridades europeias de que as máscaras de pano não seriam eficazes para conter as mutações mais transmissíveis do vírus.
"Alguns países europeus, como França e Áustria, estão revendo o tipo de máscara recomendada para população por causa das novas variantes. Entretanto, essa mudança na recomendação não tem embasamento científico", explica a infectologista Silvia Figueiredo Costa, professora do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP.
Na última semana, os dois países começaram a restringir o uso de máscaras de tecido em determinados locais. Na Áustria, por exemplo, para entrar em pontos de venda ou transportes públicos, apenas com a máscara PFF2 (ou N95), usada por profissionais de saúde e que são as mais resistentes à filtragem de aerossóis.
Para Silvia, porém, a recomendação pode estar sendo precoce. Isso porque estudos já demonstraram que máscaras de tecido - desde que tenham de duas a três camadas - apresentam filtragem de 70% contra as partículas de vírus, incluindo as novas variantes. Ela acrescenta que, mesmo as mutações sendo mais infecciosas ou se disseminando mais facilmente, ainda não foi encontrada nenhuma mudança no tamanho da partícula viral que pudesse sugerir um novo modelo de proteção.
"Até o momento, a Organização Mundial da Saúde e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças continuam recomendando máscaras de tecido com três ou duas camadas. Além do custo das máscaras cirúrgicas e FFP2, o uso indiscriminado desse tipo de máscara geraria uma quantidade grande de lixo em um momento de escassez de insumos no mundo", pondera a pesquisadora.
A infectologista Anna Sara Levin, consultora da OMS sobre transmissão da Covid-19, conta que pesquisas atestaram que alguns tecidos podem conter até mesmo uma filtragem maior do que máscaras cirúrgicas mais comuns: "Existe um grupo especializado em máscaras, coordenado pela pesquisadora May Chu [da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos], que desde o início da pandemia vem estudando a qualidade de máscaras de pano. Eles descobriram que há materiais até mais filtrantes que os das máscaras cirúrgicas, como o náilon e o polipropileno".
A especialista lembra que o objetivo da máscara é, principalmente, comunitário, e não individual: "Se você espirrar, tossir, ficar gritando, as suas secreções, que podem transmitir o vírus, não se espalham", comenta.
A barreira contra a transmissão é também o principal motivo pelo qual mesmo pessoas vacinadas deverão continuar vestindo o acessório. O infectologista Gustavo Henrique Johanson, do Hospital Israelita Albert Einstein, ressalta que, por enquanto, não existe uma garantia de que as vacinas impeçam a transmissão. Por isso, ele acredita que a máscara deverá ser um item obrigatório por um longo tempo.
"O fato de uma pessoa ter sido vacinada não significa que ela deva abandonar as máscaras, pois não sabemos ainda se ela poderá transmitir a doença mesmo imunizada. O uso das máscaras deverá continuar até que tenhamos a pandemia controlada e que o número de casos baixe significativamente. Provavelmente, isso não acontecerá até o fim do ano", afirma o especialista.
Fonte: UOL
Texto: Frederico Cursino (Da Agência Einstein)
Imagem ilustrativa: Bigstock
Edição: C.S.